Friday, June 25, 2010

UnStoppAble

Ah, Copa do Mundo! A melhor competição esportiva que existe, por várias razões, que vou ilustrar num post mais tarde. Esse post específico tem outra finalidade. Como todos sabem, eu morei vários anos nos EUA, e fui naturalizado lá. Assim, tenho um passaporte americano, nacionalidade americana, e falo inglês fluentemente. Naturalmente, eu torço não só pelo Brasil, mas também pelos EUA na Copa do Mundo. Como só tive duas Copas 'verdadeiras' na minha vida, (a de 98 eu só lembro que fiquei triste na final, e a de 2002 eu só assisti os jogos do Brasil, nem tava ciente de que existia uma seleção americana, e muito menos de que chegaram até as quartas) eu nunca tive muita felicidade torcendo pelos americanos. Em 2006, como vários de vocês devem lembrar, estavam no mesmo grupo da Itália, da República Tcheca e da Ghana. Assim, perderam dois jogos e empataram outro, sendo eliminados com apenas 1 ponto. Um grande fracasso.




Depois daquela Copa, algo mudou. No ano passado, a África do Sul sediou a Copa das Confederações da FIFA. Para aqueles que não sabem o que é isso, a Copa das Confederações é um torneio relativamente novo que reúne os melhores times das seis federações internacionais da FIFA, a seleção do país-sede e os atuais campeões mundiais. Essas seis são a CAF (Confederation of African Football), CONMEBOL (Confederación Sudamericana de Fútbol), UEFA (Union des Associations Européennes de Football), AFC (Asian Football Confederation), OFC (Oceania Football Confederation) e a CONCACAF (Confederation of North, Central American and Caribbean Association Football). Assim, foram oito times para a competição: Espanha, África do Sul, Iraque, Nova Zelândia, Brasil, EUA, Itália e Egito.


Então, o torneio funciona praticamente da mesma forma do que a Copa, só que 'diminuida'. Os times são divididos em grupos de 4, jogam entre si, avançam dois de cada grupo pras semi-finais e assim vai. Voltando aos EUA. O time norte-americano chegou lá sem moral. Eu não acreditava que ia muito longe, estavam no mesmo grupo de Brasil, Itália e Egito. Lógico que Itália e Brasil iam passar, né.

O primeiro jogo: EUA x Itália. Os italianos chegaram ao torneio como campeões mundiais, estavam cheio de confiança e os americanos tremeram. Vitória da Itália, 3x1, com direito a gol aos 94 de Rossi. EUA fez gol de pênalti nesse jogo. Meus medos foram confirmados.

S
egundo jogo: EUA x Brasil. Fudeu. Brasil é Brasil, não preciso f alar nada sobre a mística que rodeia o time brasileiro. Claro que os coitados dos americanos iam cagar nas calças. Vitória fácil brasileira, 3x0. Os americanos já estavam praticamente fora do torneio.

Mas, fora dos jogos americanos, coisas improváveis estavam acontecendo. Egito, num jogo surpreendente, vence a Itália 1x0. Ou seja, se os EUA vencessem o Egito por uma boa margem de gols, pod
eriam passar para as semi no saldo de gols. Então chegou o terceiro jogo: EUA x Egito. Os americanos entraram com cara diferente, jogaram pra cima, criaram oportunidades, e venceram fácil dos egípcios, 3x0. Parecia milagre. Os EUA se classificaram para as semi junto com o Brasil, deixando Itália pra trás.




Era inacreditável. Na semi-final, EUA enfrentou Espanha. 90 minutos depois, 2x0 EUA. Eu me deixei ficar otimista. A final seria EUA x Brasil, um jogo sempre épico e divertido de assistir. Mas, é claro que eu lembrava do último jogo entre os dois, na fase de grupos, onde o Brasil atropelou o time americano sem mais nem menos. Vou dizer que o segundo confronto foi uma coisa totalmente diferente. Os dois times entraram com peito estufado, por razões diferentes. Os americanos tavam surpreendendo, ganhando quando ninguém achavam que iam ganhar. Os brasileiros chegaram após uma campanha com 100% de aproveitamento, e esperavam nada menos do que a vitória. Era um verdadeiro David x Golias.

Começa o jogo. Aos 10 do primeiro tempo, gol. Gol
americano. Clint Dempsey estufa as redes brasileiras, para o desespero de todo o Brasil e o delírio dos poucos americanos (comparativamente) que curtem o bom futebol internacional. Aos 27, o time brasileiro desperdiça uma chance de empatar e os americanos contra-atacam. Num piscar de olhos, Charlie Davies e Landon Donovan estão tocando a bola e VOANDO em direção ao gol brasileiro. Davies toca para Donovan na cabeça da área. Donovan domina e corta pra esquerda, enganando Ramires totalmente. Logo em seguida, Donovan chuta de esquerda e coloca a bola no canto esquerdo do gol. Júlio César tenta defender, mas foi pego no contra-pé. EUA abre 2x0 contra o gigante Brasil. Un-fucking-believable.

Não vou comentar o segundo tempo, que foi um fracasso total pro lado americano. Para a alegria geral da nação brasileira, o Fabuloso fez dois gols e num escanteio, Lúcio faz o terceiro de cabeçada, faltando seis pro jogo acabar. Uma virada sensacional, com certeza, mas a atuação dos americanos no primeiro tempo me deu empolgação pra torcer pelos EUA como eu não tinha desde 2006.

Chegamos finalmente à Copa de 2010. Eu fui assistir o primeiro jogo dos EUA com grandes expectativas, afinal, era um choque de proporções épicas: EUA x Inglaterra. Um jogaço, com certeza.
NOT. Um jogo chato, a Inglaterra abriu o placar no início do jogo e os EUA só empataram por causa de um frangaço (que provavelmente vai virar histórico) do goleiro inglês. Os EUA enfrentariam em seguida a Eslovênia.

Mais uma vez a Copa de 2010 ia me surpreender. A Eslovênia acaba o primeiro tempo liderando o placar por 2x0. Meu desespero voltou, minha falta de confiança pelo time americano veio junto. Claro que os americanos não iam reagir, provavelmente iam levar ainda mais um gol pra perder de goleada da
fortíssima seleção da Eslovênia.

Mas não é que os americanos iam me levar à loucura novamente? O time voltou no segundo tempo querendo gol, querendo vitória, querendo revirar esse placar. Deu certo. Aos três do segundo tempo, um gol de Donovan. 2x1. Os americanos tentam e tentam, perdendo boas chances. A pressão deles é tão grande que a Eslovênia consegue fazer pouco no segundo tempo. Finalmente, aos 38: gol de Michael Bradley, ninguém menos que o filho do técnico americano. Eu tava com lágrimas nos olhos, o time tava vibrante, confiante. O técnico Bob Bradley tira Onyewu (zagueiro) e coloca Herculez Gomez (atacante). É tudo ou nada, vitória a qualquer custo.

Faltando poucos minutos para acabar o jogo, uma falta perigosa. A bola voa na área, Dempsey chuta e a bola entra na rede. Eu começo a dar uns berros ogrescos de felicidade que rapidamente viram raivosos, por que o árbitro anula o gol. Ele marca alguma coisa antes da cobrança de falta que anula a jogada toda. A virada que seria milagrosa virou apenas um empate foda. Eu fiquei tão puto que não consigo nem descrever aqui direito. Creio que Jozy Altidore sentiu algo parecido, quando acabou o jogo ele precisou ser segurado pra não partir pra cima do árbitro.

Com esse empate, os EUA precisavam da vitória em cima da Argélia, no último jogo do grupo C. Ao mesmo tempo, a Inglaterra enfretava a Eslovênia, também precisando da vitória pra passar pras oitavas. A Inglaterra fez gol cedo, e o resto do jogo foi chato. Eslovênia desistiu de jogar, os ingleses seguravam a bola, enfim. Acabou 1x0. Era o jogo dos americanos que tava interessante. Sabendo que precisavam da vitória, atacaram a todo instante. Perderam uma quantidade de gols absurdas. O desespero começou a tomar conta do time, a classificação se tornava cada vez mais improvável. Eu tava com a cabeça nas mãos.

Wait, could it be? Aos 46 do segundo tempo, faltando menos de um minuto pra acabar, Donovan leva a bola aos trancos e barrancos até o gol argelino, e me leva à LOUCURA. Gol santo, gol milagroso! Donovan SOME embaixo de seus companheiros, que invadem o campo ao mesmo tempo que acaba o jogo. Bob Bradley, técnico do time, pula como uma criança. Reservas e titulares se misturam, se abraçando, chorando, fazem uma festa e tanto, pois passaram pras oitavas de final.

Na verdade eu falei e falei e falei esse tempo todo só para chegar a esse ponto. Eu tenho um sentimento muito forte pela seleção americana, sempre tive. É uma seleção que vem de um país onde o futebol é uma minoria. O futebol nos EUA não é nada demais, dói no coração falar isso, mas é verdade. A seleção vem de lá e joga na África do Sul com uma garra, uma vontade de vencer tão grande que é impossível pra mim não se emocionar em todos seus jogos, e não sei como existe alguém que torce contra. Quero que os EUA cheguem muito longe nessa Copa, aí quem sabe os americanos lá em casa não abrem os olhos à beleza do futebol.

Enquanto isso, a seleção americana, longe de ser favorita, continua no torneio. Pega Gana amanhã (sábado), e sinceramente não sei se vai ganhar. Espero que sim, eu com certeza vou estar torcendo a favor. Espero que vocês torçam também.







7 comments:

  1. Parabéns pelo segundo post!
    Fora mais alguns errinhos simples (um deles até discutível) o post ta foda, há nele uma narração melhor que muito comentarista de futebol da atualidade, carregado de emoção e verdade.
    Desejo sorte à seleção Americana nessa copa, mesmo não acreditando que vá passar do próximo desafio, afinal Ghana é a última esperança das seleções Africanas nessa Copa!

    Parabéns!

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  2. Aaaah quanto patriotismo fofonildo ;D
    Não vou mentir pra vocêne dizer que vou torcer pros EUA porque eu quero MUITO que Gana vença :) além de ser a única esperança de representação africana, há a semelhança com o meu nome (morGANA heheh) e que a blusa deles é linda (aquela que Caio me dará de presente. ou não.)!
    Besitos, amo você!

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  3. morGANA HUAUHAHUAHUAHUHUAHUAHUAHUAHUAHUHUAUHAUHAHUAHUUHAHAUHAUHAHUHAUHUAHUAHUAHUAHUHUAHUAHUAHUAHU

    Po, eu acho mó foda a seleção americana. Na verdade a evolução deles não vem de hoje. Foram bem na Copa de 94 (que foi lá, tendo inclusive a maior média de público da história das copas) e em 2002, e teve essa Copa das Confederações, que foram vice campeões. Tanto é que tem alguns comentaristas de futebol americanos (sim, eles existem) que não entendem porque tanta empolgação com essa classificação, que não era mais do que a obrigação e que a seleção americana não pode mais se contentar apenas com passar da primeira fase.

    Mas o mais legal que vem acontecendo atualmente é realmente o fato de que o povo americano está começando a se abrir mais. Ainda é visto como uma coisa estranha, mais aos poucos eles estão começando a se fascinar com um esporte que gera paixões imensas por todo o mundo. Deve ser difícil pro americano clássico gostar de um esporte aonde eles não são os melhores, mas isso está acontecendo.

    MorGANA HUAHAhuaHUAHuhuA. Pena que você não tem uma amiga chamada VanUSA =\

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  4. Comentando o último post do Bruno, é engraçado parar pra pensar que os americanos só são melhores nos esportes coletivos que "só eles" praticam. Futebol americano e talvez baseball. Basquete ja saiu do domínio exclusivo deles a um tempinho.

    Os Estados Unidos tem um dilema parecido com o do México. Não podem mais ficar presos nas oitavas de final pra sempre, mas por enquanto não há material humano pra fazer muito melhor. Deve ser um problema do pessoal da América do Norte mesmo.

    Talvez daqui pra frente eles se interessem mais por futebol e não só por Copa do Mundo. Enquanto eles continuarem negligenciando as ligas nacionais e dando pouca importancia ao esporte no entre-copas, os EUA nunca vão conseguir nada melhor que isso mesmo.

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  5. Juu, você escreve tão bonitinho! haha (:
    Legal você torcer pelos EUA, afinal, você é metade de lá né? hahaha
    Uma pena os americanos terem perdido, mas também estou feliz por Gana. Era (e é) a última esperança dos africanos, e acho que eles mereceram também.
    Vamos torcer para que a seleção americana chegue mais longe da próxima vez (;
    Beijos!

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  6. E quando eles começarem a privilegiar as ligas nacionais vai ser um Deus nos acuda. Já não basta os sheiks levando nossos jogadores, agora vai ter a concorrência gogante dos americanos!

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  7. Mas sei lá, os clubes não tem grana mesmo, o máximo que rola é uma série de masters assim.

    Os sheiks, os emersons.

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