This Blog Wants You

Criei esse blog há alguns dias. Não postei nada, tava em dúvida sobre o que escrever no grande 'primeiro post' do blog. Cogitei falar sobre Family Guy, Samurai Jack, Copa do Mundo, enfim. Aí hoje eu tive compromisso no exército, e pensei 'Oh, quem sabe seria uma boa, ou BIZÚ, como falam lá, fazer um primeiro post sobre esse processo e como eu me senti passando por ele'. Então, o primeiro post do Useless Crap vai ser sobre algo nem tão useless assim.

Acho que todos os homens no Brasil sentem exatamente a mesma coisa quando fazem 18 anos e lembram (ou são lembrados) de que nessa idade, precisam fazer o Alistamento Militar Obrigatório. Creio que é essa parceria de Militar e Obrigatório que faz todos os homens sentirem um pingo de medo quando passam por isso. Não adianta mentir, sempre rola aquele medinho quando você pensa que possivelmente vai acabar servindo.

Tudo começa no dia em que nós vamos pegar nosso Certificado de Alistamento Militar, o famoso CAM. Eu fui com Remi lá pegar nosso CAM, e eu lembro perfeitamente como nós estávamos ansiosos quando chegamos no batalhão, tinha uma fila IMENSA de homens da nossa idade esperando pra entrar. Quando você chega e vê uns 70 homens todos com cara de medo, você também fica com pé atrás, mas fazer o que. É OBRIGATÓRIO. =D

Então, ficamos na fila pra entrar e talz, e o dia passou sem mais nem menos. Só demorou. Pena que eu não entendi que 'demora' ia ser a palavra-chave do alistamento. Jesus, como isso demora. Saí de lá com uma data no meu CAM pra voltar seis meses depois, em Janeiro. Fui pra casa contente, achando que o pior tinha acabado. Sim, eu era animal. O 'era' é discutível.

Chegando Janeiro, eu lembrei do meu compromisso. Fui ver no CAM que era lá no BaHELLto, as 6:30 da manhã. Puta que pariu, hein. Acordei as 5:30 pra me arrumar e ir pra lá de ônibus, tudo escuro ainda. Cheguei lá e tinham umas 500 pessoas esperando pra entrar. O nervosismo voltou correndo, e passei longos minutos sem saber o que ia acontecer comigo, deixando minha imaginação correr solta. Claro que não rolou nada demais, entrei no batalhão, encontrei amigos lá também e o dia passou, só o famoso 'abaixa as calças' e uma nova data no meu CAM.

Nessa hora, meus amigos já tavam procurando saídas. Saídas no sentido de 'algum jeito de escapar desse compromisso'. Só o jeito que eu falo já dá uma idéia do que eu acho disso, né. Pessoalmente acho RIDÍCULO forjar problema médico ou ir correndo para um General ou sei-lá-o-que pra te tirar do que é obrigatório. Mas, claro que 80% dos playboys e meninos de classe média vão fazer isso pra escapar da encheção de saco que é o processo. Eu não fiz nada disso. Quando me perguntaram se eu queria servir, eu falava 'Não', mas não inventei problema médico nem nada. Claro que acabei sendo rotulado como 'Apto Para Servir' na próxima vez que fui no batalhão, e ganhei mais uma data no meu CAM, dessa vez só voltando em Junho desse ano.

Então chegamos à semana passada. Depois de cinco meses sem nem pensar no exército, lembrei que tinha que voltar lá de novo. Fui ver meu CAM pra verificar data e tal, e mostrei pro meu pai. Ele olhou e imediatamente ficou de olho arregalado. Eu já fiquei tenso também, e perguntei o que houve. Ele: 'Aqui no seu CAM fala que você vai no batalhão pra ser incorporado. Você vai servir!' Minha mãe, claro, entrou em Modo Histérico, e meu pai não ajudou, falando que se fosse acontecer o que ele achasse que ia acontecer, meus pais iam ter que levar roupa pra lá, por que o exército ia me levar embora. Eu sei o que vocês estão pensando: 'LOL! Até parece que a porra do exército vai te raptar do nada.' Pois é, pensando agora é realmente ridículo. Mas na hora, mermão, nossa. Já tava deixando minha imaginação fazer o que ela faz.

Comecei a pensar que ia servir, pronto, acabou. Podia dar adeus aos meus planos de ir pra CAL, de viajar pros EUA, enfim, podia dar adeus à vida que eu queria no próximo ano e pouco. Acordei as 5:30 com coração pesado, meu pai me levou até o batalhão e a viagem foi silenciosa, tensa.

Cheguei lá, tudo escuro, salto do carro, e imediatamente encontro meu amigo Mateus da faculdade. Tudo de ruim que tava na minha alma saiu de mim na hora. Tudo que conseguia pensar era: não estou sozinho. Incrível como a presença de uma pessoa conhecida mudou tudo. Encarei o dia com outra alma. E, claro, passou sem mais nem menos, mais uma data no meu CAM, pro dia seguinte.

Voltei o dia seguinte, encontrei meu amigo, e a impressão que eu tive é que nada aconteceu nesse dia. Mais uma data, pro dia seguinte. Vai se fuder hein, especialmente com Copa rolando. Quero ver jogo, não ficar aqui sentado fazendo porra nenhuma. O único lado bom sobre não fazer nada nesses dias é que pude pensar bastante, e me encontrei pensando muito sobre o exército e o que ia acontecer comigo se eu acabasse servindo.

Finalmente chego ao propósito desse post. Eu notei que eu não ia achar ruim servir. Muito ao contrário, seria algo bom pra mim, algo que eu provavelmente ia gostar. Eu ia acordar cedo todo dia, me exercitar, jogar futebol, aprender disciplina, ser alimentado, e eu ia receber por tudo isso. Aqueles que me conhecem sabem que eu tenho muito respeito por disciplina, algo que eu só tenho pra ir na academia e pra nadar, e não onde eu realmente preciso (estudar, claro). Além disso, sempre achei a instituição militar uma coisa muito legal. Eu gosto da atmosfera toda, dos soldados batendo continência, da ordem e da organização de um pelotão marchando. Me faz sentir algo que só consigo sentir jogando jogo de estratégia, onde você vê seus soldados andando juntinho. Não sei nem como descrever.

Quem sabe eu me sinto assim por que, na minha humilde opinião, não existe nada mais ridículo do que essas liberdades que a nossa sociedade moderna nos dá. Vou tentar explicar. Essas modinhas, esses playboys gays que ficam mexendo no cabelinho e andando com jaquetinha de marca e se achando por isso, pra mim são doenças a serem erradicadas. Esses geeks baixinhos que são todos espertinhos e cagam pra desenvolvimento físico, achando que corpo não tem importância. Esses viadinhos andando na rua com jeans colados achando que são o tal, deveriam ir pro quartel serem espancados pelos soldados lá. Esses homens acordam cedo todo dia e fazem algo que todo playboy TREME só de pensar. Eu tenho respeito por eles e tenho respeito a o que eles representam. Acho que serviço militar deveria ser obrigatório para 100% dos homens nesse país. Scratch that. 100% dos homens de TODOS os países.

Pensamento radical, alguns devem pensar. Concordo, mas eu sempre fui assim. Tenho opiniões radicais sobre algumas coisas, essa é uma delas. É só pensar sobre os seis ou sete moleques nesses dias aí no batalhão que INVENTARAM problemas médicos pra escapar do serviço militar que eu fico puto pra caralho. Como assim essas bichas vão embora por causa disso? Se eu fosse o Sargento lá cuidando da gente, ia querer cuspir em cima do cabelinho arrumado deles. Vai se fuder, po.

Enfim, hoje eu fui entrevistado e o Tenente que me entrevistou mudou minha data de voltar ao batalhão por causa da minha viagem aos EUA. Eu pedi pra ele mudar, e ele mudou, ainda me desejou boa viagem. Esse é o soldado brasileiro. Não é um demônio que quer acabar com sua vida, é um cara normal, com um emprego um pouco diferente. É uma homem que estuda, que nem você. Esse Tenente, por exemplo, faz Engenharia na UFF, praticamente do meu lado. Eu ia me orgulhar de servir ao lado dele. Eu ia me orgulhar de servir, ponto.

Mas, fechando esse post (que ficou até grandinho, parabenizo aqueles que chegaram até aqui, nunca é fácil ler o desabafo de alguém), eu provavelmente não vou servir. Conversei com alguns soldados lá e eles disseram que voltando numa data toda nada a ver, eu ia acabar sendo dispensado. Que bom! Ou não, sei lá.

Fiquei em dúvida.